A parentalidade é uma das tarefas mais complexas da vida adulta. A adolescência e as grandes mudanças que a caracterizam exigem aos pais ajustamentos no seu estilo parental e de educação, para que possam acompanhar estas mudanças. Para além deste panorama mais global de mudanças, é fundamental que os pais considerem também o trajeto de desenvolvimento específico do seu filho adolescente e as suas características individuais.
É neste balanço entre uma vivência descontraída desta etapa de desenvolvimento da família com filhos adolescentes e a atenção aos desafios colocados à família, aos pais e ao adolescente em particular, que a comunicação Pais-Filhos assume especial importância.
A adolescência é uma fase da vida caracterizada por grandes mudanças físicas e biológicas, intelectuais, psicológicas, sociais e emocionais. São mudanças que acontecem em conjunto e que se influenciam reciprocamente. Durante um período de tempo considerável, uma combinação entre maturidade e infantilidade, antecede a vida adulta.
Nesta fase, a instabilidade afetiva, as dúvidas e as angústias, a experimentação de novos papéis, de novas emoções e de novos modos de se relacionar com os outros ocorrem, traduzindo, geralmente, uma etapa “de crise” esperada, normativa e saudável. Trata-se de um período crítico, mas simultaneamente necessário à resolução das 3 tarefas principais do desenvolvimento adolescente: (1) a construção da Autonomia; (2) a definição da Identidade; (3) a exploração da Intimidade.
Apesar das novas exigências inerentes à construção da sua autonomia, é natural que o adolescente possa sentir medo e incertezas face ao stress inerente à sua própria adolescência, como face aos seus acontecimentos de vida. As suas emoções são voláteis e, muitas vezes, encontram-se à superfície.
Canais de comunicação abertos, num contexto de atenção e disponibilidade para com o filho adolescente, permitir-lhe-ão explorar o novo mundo com confiança, com a segurança de sentir que os pais estão lá, para apoiar e para, eventualmente e se necessário, amortecer o sofrimento.
Os adolescentes precisam dos seus pais. Desejam o seu amor e afeto, e necessitam de orientações adultas. Os adolescentes mais confiantes e bem-sucedidos são aqueles cujas famílias conseguem um equilíbrio entre constituírem-se como uma base de apoio segura para os seus filhos adolescentes e permitirem-lhe explorar o mundo que o rodeia.
Esta exploração que o adolescente faz de si próprio e do mundo permite-lhe construir a sua identidade e implica ter confiança em si próprio, sentido de iniciativa e sentido de continuidade da sua história de vida pessoal e familiar.
Por isso, a exploração só é possível quando o adolescente sente a estabilidade, segurança e acessibilidade das figuras de vinculação. Ao invés,
Quando os pais não funcionam como um porto ou base segura para os seus filhos, estes têm mais dificuldade em se diferenciar da família de origem e em comunicar com o exterior. Podem tornar-se mais dogmáticos, rígidos ou intolerantes.
Quando os pais tendem a ser muito controladores e muito exigentes, levam os seus filhos a evitar comportamentos de exploração. Podem tornar-se mais conformistas e inseguros.
Quando os pais tendem a ser muito permissivos e a não estabelecer limites e regras, os seus filhos poderão ter mais dificuldades em saber lidar com a frustração resultante dos seus comportamentos de exploração do mundo. Podem tornar-se mais egocêntricos e omnipotentes.
Uma relação onde existe afeto, confiança e aceitação é caraterística de práticas educativas democráticas e orientadoras. Este é o estilo educativo que melhor funciona na adolescência. Neste estilo educativo há lugar para as regras, as normas e os valores e ao mesmo tempo para a capacidade de escuta e de negociação. Neste contexto educativo, o adolescente constrói a sua identidade e a sua autonomia de forma saudável e está mais preparado para experienciar relações de intimidade.
Nas suas experiências de construção de autonomia, os adolescentes não desejam romper os laços que os ligam aos pais, mas antes modificá-los, de modo a criarem o necessário “espaço” psicológico para poderem descobrir e assumir a sua própria personalidade, uma vez que, durante a infância foram, essencialmente, aquilo que a família é.
Nesta etapa desafiante e complexa, o adolescente procura o equilíbrio entre a responsabilidade e os novos privilégios.
Experiencia desafios na relação consigo próprio: uma crise de identidade, o questionamento sobre o que quer ser e como alcançar o que quer, a necessidade de conciliar os estudos com as amizades, a descoberta do amor e as mudanças nas vivências da sexualidade e da intimidade e a difícil tarefa de se concentrar com tanto a acontecer.
Na relação com os pais, o adolescente experiencia desafios como a necessidade de conquistar a sua autonomia na relação, a necessidade que os pais aceitem o seu crescimento e compreendam as suas alterações de humor, a necessidade de que os pais sejam coerentes nas suas decisões, respeitem a sua privacidade e a sua diferença (por exemplo, não estabelecendo comparações com amigos ou irmãos).
Como forma de integrar todos estes desafios, a maior necessidade que o seu filho adolescente experiencia relaciona-se com a Comunicação. O adolescente precisa de ser ouvido, escutado, compreendido e reconhecido.
Algumas Sugestões Sobre Como Comunicar com o Seu Filho Adolescente:
Fale com o seu filho sempre que puder, mesmo que lhe pareça que ele não quer conversar consigo. Escolha o momento oportuno para o fazer: poderá ser na viagem de carro ou numa ida às compras, permitindo-lhe focar-se em algo enquanto fala.
Sempre que o seu filho adolescente tiver questões, responda-lhe honestamente e com segurança. Peça-lhe também a sua opinião sobre o assunto e escute as suas respostas.
Providencie ao seu filho muito tempo de família, um tempo de exclusividade, diferente do tempo de família que inclua os amigos do seu filho, uma vez que é natural que este prefira passar o seu tempo na presença de amigos.
Encoraje o seu filho a fazer “intervalos de notícias”, sempre que este estiver a assistir a notícias televisivas, a ler revistas, jornais ou na internet. As notícias representam acontecimentos stressantes da vida diária e podem funcionar como bons catalisadores de discussão. Discussões honestas sobre expectativas e medos poderão ajudá-lo a expressar os seus próprios receios e medos. E, se o seu filho tem particular dificuldade em expressar-se ou em expressar emoções, a linguagem jornalística pode ajudar.
Seja firme e simultaneamente compreensivo se o seu filho responder a situações de stress com zanga, rabugice ou amuo, assegurando-lhe que espera que ele dê o melhor de si mesmo na situação. É natural que as oscilações hormonais do seu filho lhe provoquem altos e baixos e que situações de stress possam extremar ainda mais estas variações.
Na comunicação Pais-Filhos, é esperado algum conflito, frequentemente sob a forma de desafio à autoridade dos pais. Na verdade, neste processo de transição da infância para a vida adulta, o adolescente sente-se puxado em diversas direções, mas ainda com dificuldade em assumir uma posição consistente e consciente.
Muitas vezes o conflito surge como resultado da persistência e da capacidade de argumentação do jovem adolescente. No entanto, esta sua nova capacidade argumentativa é sinónimo dos seus primeiros passos no sentido da independência e da autonomia e permitir-lhe-á desenvolver a confiança e a responsabilidade.
Muitas vezes os pais não gostam de ser confrontados, mas estes “confrontos” devem ser vistos como oportunidades para que os adolescentes se expressem e defendam as suas posições, num ambiente protegido.
Quando não se consegue o acordo, surge o conflito, muitas vezes pautado por posições extremadas de ambas as partes. Neste caso, é importante encontrar alternativas:
Poderá questionar-se sobre o que está verdadeiramente em causa: o assunto em si da discussão ou as necessidades de independência do seu filho?
Poderá adotar a perspetiva do seu filho, ter em conta as suas características de adolescente e a sua personalidade particular, e deste modo conseguirá comunicar e responder com mais calma e com mais sucesso.
Num período de grande construção, as emoções são vividas de forma intensa e há uma tendência para o adolescente se distanciar de quem impõe e faz as regras, nomeadamente os seus pais. O papel dos pais torna-se especialmente importante na construção de uma relação de confiança, de transparência e de respeito entre ambas as gerações.
Estratégias Úteis para que a Comunicação com o seu Filho Adolescente Flua Sem Problemas:
Mostre interesse e escute o seu filho, mesmo quando não concorda com as suas ideias ou argumentos. O seu filho precisa de sentir que é compreendido e que os pais têm interesse no que ele pensa, mesmo que não estejam de acordo com os seus argumentos. Se deixar de o escutar por achar descabido o que ele pensa, ele deixará de lhe contar ou dizer o que pensa.
Mostre respeito pelo seu filho, pelas suas ideias e sentimentos, dizendo que o entende. Os adolescentes sentem-se confortáveis quando se sentem aceites, compreendidos e amados.
Quando o seu filho quiser comunicar, assegure-lhe estará lá para o ouvir. Não o force a falar. Muitas vezes, os adolescentes não o fazem porque não possuem as ferramentas necessárias para expressarem as suas emoções ou as regularem e experienciam-nas de forma intensa, ora catastrófica, ora como o melhor do mundo. Perguntas excessivas ou contínuas podem oprimi-los.
Se o seu filho se coloca em silêncio, mostre que se sente mal por não conseguir comunicar com ele. Em vez das habituais frases como “Nunca me contas nada! Nunca falas comigo”, aproxime-se do seu filho dizendo algo como “Gostaria muito de conseguir falar contigo. Entristece-me não saber o que sentes e não poder ajudar-te, caso necessites”.
Procure falar de si, para poder ouvir o seu filho a falar dele. Em vez de frases como “Conta-me como foi o teu dia…”, fale de si próprio, de como foi o seu dia, dos seus problemas ou dos seus amigos, iniciando as frases por “Eu”.
Fale com o seu filho sobre as suas próprias vulnerabilidades enquanto adulto, pois ao contar episódios em que assume que errou, passará a ideia de que é humano e isso permitirá ao seu filho assumir e lidar melhor com os seus próprios erros.
Encoraje o seu filho através da ação. Deverá ajudá-lo de modo a que ele procure a motivação interna que o leve a fazer as coisas. Foque o seu filho nas soluções.
Incentive o seu filho à tomada de decisões e de posição. Os adolescentes têm tendência a ser impulsivos, ignorando por vezes potenciais consequências das suas ações. Por isso, é importante que ajude o seu filho a pensar antes de decidir e a aumentar-lhe a consciência das suas tomadas de decisão. Sendo lhe dada a oportunidade de ter um papel mais ativo no que se passa ao seu redor, o adolescente desenvolve uma maior responsabilidade sobre os seus atos.
Evite ser demasiado crítico. Se for demasiado crítico face aos gostos do seu filho ou se apresentar demasiadas “queixas”, poderá afastá-lo. A frequência da recriminação ou os “nãos” consecutivos e sem uma explicação compreensiva diminuem manifestamente a eficácia da autoridade dos pais.
Tenha em conta que o seu filho não é o que fez. Distinga “o que ele fez” daquilo que “ele é”. Esta forma de comunicar com o seu filho permitir-lhe-á desenvolver-se de forma saudável.
Faça perguntas. As perguntas permitem estabelecer pontes e conduzem mais facilmente a soluções. Transforme críticas em perguntas construtivas: ao invés de “As tuas notas estão péssimas”, pergunte “Como te posso ajudar a estudar melhor?” ou em vez de “O teu quarto está todo desarrumado!”, pergunte “O que podes fazer para melhorar o aspeto do teu quarto?”.
Aja com firmeza e assuma o controlo da situação quando não há entendimento. Não permita que o seu filho adolescente assuma o controlo e o poder. Tal resultaria numa inversão de papéis e os pais não estariam a exercer a sua função parental. Na sua função, os pais deverão equilibrar a firmeza necessária ao controlo da situação com o apoio emocional de que o seu filho necessita.
Utilize a palavra “não”. O seu filho necessita sentir que existem regras, balizas, de forma a que se possa sentir seguro e integrado na família e na sociedade. O seu filho tem direito a manifestar desacordo, mas deve compreender quais os seus limites de ação. Em suma, seja afetuoso e firme, colocando normas e limites. Mostre-se disposto ao diálogo e à comunicação, sendo claro e confiante. O seu filho saberá, assim, o que pode ou não pode fazer e ao mesmo tempo sentir-se-á amado e aceite. Por outro lado, pais coerentes aplicam, na prática, o que pensam e o que dizem.
Defina claramente os valores da família. Se puder, escreva-os. Os valores bem definidos e claros tornam o seu filho mais apto a comunicar.
Essencialmente, seja um modelo e um exemplo para os seus filhos. Torne a sua casa, o seu lar, um espaço emocionalmente seguro para os seus filhos. Independentemente das adversidades que possam ser diariamente vividas no contexto da escola, das relações com os pares ou com os adultos, a sensação calorosa de regresso a casa e de que esta é uma constante na sua vida fará uma diferença significativa.
Sobreviver à Parentalidade não parece tarefa fácil. No entanto, sabe-se que pais mais calorosos e envolvidos tendem a manter relações mais abertas e fortes com os seus filhos e uma comunicação mais positiva e eficaz.
A diversidade de temas e assuntos que despertam o interesse dos adolescentes não facilitam, aos pais, a tarefa de comunicar.
By: escolasaudavelmente
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